quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Carnaval Salense




Para uma pacata cidade de 8 mil habitantes, ser paulistano soa quase como um estrangeirismo quando nos remetemos a objetos como shopping center, hipermercado 24 horas, trânsito e todas as coisas "típicas" de cidade grande.


Entretanto a "balada" era aberta ao público, bem como as portas das casas de boa parte dos simpáticos e receptivos salenses, explico: é inevitável comparar que mesmo desprovidos dos aspectos culturais ditos "tradicionais" dessa época do ano -afinal a festa de carnaval típica é históricamente ligada às marchinhas, fantasias, confetes e blocos-de-rua- em nome de grupos de axé e forró num palco dentro de uma área cercada, aqueles aspéctos ligados à sensação de insegurança e da privatização/restrição do uso do espaço se esvaem ao perceber que mesmo aquelas pessoas ditas, indesejadas, como catadores de produtos recicláveis apenas realizavam o seu digno trabalho. E quanto a segurança do evento, na verdade, moradores locais com coletes laranjas, interagiam amistosamente com os demais participantes, e eram também refletidos pelos poucos policiais avistados nas cercanias que estavam sempre à prosear... entremeados por manifestações de humor espontâneas a vista dos transeuntes, santa tranquilidade né?


Engraçado como a fé está presente em cada habitante, mesmo nos mais jovens -que aliás eram a imensa maioria dos participantes da festa- pois há apenas um quarteirão da maior praça pública da cidade, ao entorno da igreja matriz, o limite entre o certo e o errado se traduz pelo binômio pecado/moral, e ela é essencialmente cristã, talvez isso explique em parte essa natureza comportamental tão peculiar dos habitantes de cidades pequenas mesmo que para isso, sua vida particular e cotidiana seja coletivizada nas redes informais, porém organizadíssimas, de boatos, fofocas, fuxicos e relacionados, que exercem de fato o poder de polícia em comunidades.


A impressão é a de que se quisermos reclamar de algo, além do bispo, representado pelo pároco local Pe. Franco (Foto), basta andar dois quarteirões planos dali para tomar um café com o prefeito, João da "Ida" , e sem nenhum número de protocolo ou agendamento prévio para tal. Porém o que há para se reclamar se és bem visto na comunidade? O estresse causado pelo tédio certamente não o é, pois mesmo um salense que se ocupe apenas de observar o tempo passar -como o grupo de aposentados sempre presentes nos bancos da praça matriz- , sente-se de fato pertencente a um lar, e a prosear, seja da vida cotidiana local, seja de quão diferente deve ser o nosso mundo caótico urbamo, aonde as redes de comunicação entre as pessoas se materializam paralelamente a rede de circulação de moedas e coisas. Um exemplo disso foi quando na volta à Sampa, ao observar a reação da namorada do meu amigo George Marcel (foto abaixo), ouvi sua reação de curiosidade ao avistar que ao lado do mais novo cartão postal da cidade, a Ponte Estaiada, e os arranhas céus da região, a comunidade o Jardim Edith, com suas moradias feitas por casebres amontoados feitos de placas de madeira, a sua imediata antítese. "Por que ninguém os tirou dali?" foi a sua primeira reação para após refletir: "Deve ser muito ruim morar num lugar desses". De fato, talvez falte um pouco de fé e de redes informais para os cidadãos daqui, que tanto se orgulham de seus shoppings, hipermercados 24 horas e, pasmem, de trânsito, afinal a nossa reação ao chegar em Sales é de se perguntar o porquê da vida passar ali tão devagar e após refletir, do temor de ser consumido pelo tédio inerente a tal ambiente.




Ainda curioso sobre a primeira imagem? É a Lilian, ou melhor, Dra. Lilian Vogt, uma típica salense, que trabalha como advogada da prefeitura junto ao prefeito João da Ida, e que assiste aos sermões do Pe. Franco todas as semanas. Ambos tem algo essencial em comum: Amor ao ser humano! Especialmente aquele que reconhece o valor de nosso trabalho por meio dos gestos imateriais, como as crianças, idosos e os mais necessitados. Ogni bene per voi, mi cielo!


Conheça um pouco mais sobre o município de Sales Oliveira, distante 381 km da capital ao clicar aqui.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Tênis x Frescobol - Ruben Alves

Por ser um professor que é atento aos relacionamentos com os seus alunos, vi nesse texto do escritor brasileiro Ruben Alves sentimentos traduzidos em palavras, recomendo uma leitura calma e reflexiva acerca da importância dos relacionamentos na nossa sociedade da competição, especialmente ao amor entre casais.

Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.

Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: ‘Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?\' Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.’

Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ‘Eu te amo, eu te amo...’ Barthes advertia: ‘Passada a primeira confissão, ‘eu te amo\' não quer dizer mais nada.’ É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: ‘Erótica é a alma.’

O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...

A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...

Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:
‘Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo\'. A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: ‘Tens razão, minha querida\'. A situação está salva e o ódio vai aumentando.’

Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.

Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...(O retorno e terno, p. 51.)


Que bom que eles se casaram!..

A Mema tinha a delicadeza de uma asa de borboleta. Jovem, tinha sido muito bonita. Teve um caso de amor. Mas o pai não permitiu o casamento. O moço era pobre e da ‘prateleira de baixo’. Ela aceitou o veredicto do pai e transformou sua tristeza numa delicadeza mansa para com tudo e todos, especialmente para com os sobrinhos. Sempre que algum deles adoecia, a Mema era chamada. Todos a adoravam. Naquela manhã ela reuniu os sobrinhos e os levou para passear, longe da casa. Eles não entenderiam o que estava para acontecer. Na verdade, eles não deviam entender. Na casa o movimento era incomum, mulheres entrando e saindo de um quarto, água fervendo no fogão, o marido andando como um bobo de um lado para o outro. Até que se ouviu o choro de uma criança. O choro anunciava o nascimento. A parteira anunciou: ‘É um menino!’ A mãe ficou desapontada. Já tinha três filhos homens. Tinha rezado muito para que na sua barriga estivesse uma menina. Toda mãe sonha com uma menina como companheira e enfermeira, para quando os dias forem maus. Quando a Mema voltou com os meninos, eles foram informados pelo pai que um irmãozinho havia chegado - sem explicar nem como e nem de onde. Era o dia 15 de setembro de 1933. Assim foi: no desejo de minha mãe eu deveria ter sido uma menina... Ela mesma me disse, muito tempo depois, carinhosamente.

Hoje, decorridos sessenta e seis anos, mortos meu pai, minha mãe, Mema, parteiras, comadres, eu fico pensando sobre o enigma do casamento do meu pai e da minha mãe. Eu nunca os vi brigando. Nunca ouvi uma troca de palavras ásperas entre eles. E, no entanto, nunca pude entender por que eles se casaram. Minha impressão era de que eles viviam em mundos imensamente distantes, bolhas que não se comunicavam. Vieram-me à memória as palavras que Thomas Mann colocou na boca de José. José, vendido pelos irmãos invejosos a mercadores de escravos que iam para o Egito, diz ao seu novo dono: ‘Estamos assentados a um metro de distância um do outro. E, no entanto, ao teu redor gira um universo do qual tu és o centro, e não eu. E ao meu redor gira um universo do qual o centro sou eu, e não tu.’ (Thomas Mann, José no Egito). Era assim que eu sentia o meu pai e a minha mãe.

Meu pai era um sonhador. A fotografia dele de que mais gosto é uma em que ele está assentado numa poltrona, fumando o seu cachimbo, com olhar perdido. O cheiro e a fumaça do cachimbo têm um poder ‘desrealizador’ (essa palavra inexistente, eu acho, é de Bachelard...). A fumaça, em suas espirais azuis, vai dissolvendo os contornos nítidos das coisas. Os pintores chineses sabiam disto e, para misturar realidade com irrealidade, enchiam suas telas com neblinas. O cachimbo é um produtor de neblinas. Na neblina, ali onde a realidade fica irrealidade, o cachimbo abre o mundo dos sonhos. Meu pai, homem de origem humilde e pobre, sem árvore genealógica, foi homem de negócios bem sucedido e rico e terminou sua vida como caixeiro viajante pobre. Quem desejar saber algo sobre a alma dos caixeiros viajantes que leia a peça de Miller ‘A morte do caixeiro viajante’. Quando vi esta peça pela primeira vez, num teatro em São Paulo, o impacto foi tão grande que me senti fisicamente mal. Era a estória da vida do meu pai. Mas o fato é que, na alma, ele nunca foi nem uma coisa e nem a outra. Se tivesse podido teria sido um ator de teatro. Sei mesmo que ele chegou a fazer algumas experiências no palco, lá em Boa Esperança. Não teve sucesso como ator de palco mas foi um ator, a vida inteira. O que caracteriza um bom ator é que, ao representar, ele se esquece que está representando. Ele não representa; ele vive os papéis. Ri, chora, sofre, como se fosse verdade. Vida a fora meu pai se especializou em papéis alegres. Seu público era qualquer grupo de pessoas. Qualquer assunto era motivo para que ele criasse, através da palavra, uma trama fascinante que a todos encantava. Essa capacidade é uma grande virtude nos atores profissionais. Mas estes sabem que, ao sair do palco, o teatro terminou. Vida e teatro não são a mesma coisa. Mas meu pai não saía do palco. Não distinguia entre teatro e vida. Para ele a vida inteira era um teatro. Pagou um preço muito caro por sua vocação artística. Porque o ‘script’ da vida não é igual ao ‘script’ da peça. Por isso morreu pobre. Meu pai sonhou a vida inteira.

Minha mãe vinha de um mundo completamente diferente. Nascida num rico sobrado colonial, com vidros coloridos importados, longos corredores, salas barrocas, festas, sua família se gabava de ancestrais nobres e poderosos. Diziam, inclusive, que um dos seus membros havia sido governador da província das Minas Gerais, havendo deixado em Ouro Preto um chafariz com o seu nome - fato que nunca pude comprovar. As viagens para o exterior não eram incomuns. Minha tia Georgina, jovem de dezoito anos no final do século passado, foi sozinha aos Estados Unidos tratar de saúde, numa longa viagem de vapor. Todas as filhas eram pintoras. Todas sabiam tocar algum instrumento: bandolim, cítara (lembro-me de duas cítaras abandonadas, bordadas com madrepérola), piano. Minha mãe, além do bandolim, que abandonou, era pianista. Entendam-me. Não é que ela soubesse tocar piano e o fizesse em saraus musicais, como o fazem inúmeras mocinhas. O piano era a sua alma. Lembro-me dela tocando a Sonata ao Luar, de Beethoven, a balada em sol menor de Chopin. Minha mãe, mulher tímida e de poucas palavras, ao se assentar ao piano entrava num mundo de beleza musical a que poucas pessoas tinham acesso. Tocava, e a música criava ao seu redor um bolha encantada onde ela estava só. Meu pai ficava sempre de fora, embora fosse delicado e atencioso. Vez por outra ele dava um palpite: ‘Toque uma daquelas valsinhas boas para dormir...’ Ela sorria e tocava. Deixava sua bolha mágica para atender ao pedido da criança. Porque, esteticamente, meu pai era uma criança.

Foi minha mãe que me abriu o mundo da música. Menino ainda, ela me levava aos concertos no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi com ela que ouvi Brailowski, Nikita Magallof, Friedrich Gulda. Curiosamente, foi ela que ensinou o piano a uma comadre, Da. Augusta Freire, e suas filhas, em Boa Esperança. Pois Da. Augusta, num descuido do amor, ficou grávida de novo depois de muitos anos, e o menininho intruso recebeu o nome de Nelson Freire, que atualmente é um dos maiores pianistas do mundo.

Minha mãe falava pouco, muito pouco. Nós nos comunicávamos pela música. Ela ficava assentada, ouvindo, sem nada dizer, enquanto eu estudava a sonata de Chopin.

Há músicas que a gente ouve e gosta imediatamente. Sua beleza está no jardim de entrada. Ouvindo estas músicas a gente tem uma experiência imediata de comunhão: todos são igualmente comovidos. A música clássica é diferente. Sua beleza não se encontra no jardim de entrada mas num quarto fechado à chave. Quem não tem a chave não entra. A beleza da música clássica precisa ser aprendida paciente e disciplinadamente. Quem aprendeu tem a chave: entra no quarto e tem a experiência da beleza. Quem não aprendeu fica de fora e não percebe nada. Por isso a música clássica pode produzir uma dolorosa solidão.

Do meu pai, eu acho, herdei o gosto pela palavra, o prazer em criar mundos pela escrita e pela fala. O mundo do meu pai se abre para fora, para uma comunhão fácil. Da minha mãe recebi as chaves que abrem as portas que levam ao mundo da música clássica. O mundo de minha mãe se abre para dentro, onde se encontram a alegria e uma comunhão difícil que beira à solidão.

Não sei por que se casaram. Mas, que bom que se casaram! Porque, se não tivessem se casado, eu não teria nascido naquela manhã do dia 15 de setembro de 1933. (O amor que acende a lua, p.159).



terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Um Oceano de Plástico - Texto

Durabilidade, estabilidade e resistência a desintegração. As propriedades que fazem do plástico um dos produtos com maiores aplicações e utilidades ao consumidor final, também o tornam um dos maiores vilões ambientais. São produzidos anualmente cerca de 100 milhões de toneladas de plástico e cerca de 10% deste total acabam nos oceanos, sendo que 80% desta fração vem de terra firme.

giro-mais-lixo.jpg
Foto do vórtex

No oceano pacífico há uma enorme camada flutuante de plástico, que já é considerada a maior concentração de lixo do mundo, com cerca de 1000 km de extensão, vai da costa da Califórnia, atravessa o Havaí e chega a meio caminho do Japão e atinge uma profundidade de mais ou menos 10 metros . Acredita-se que haja neste vórtex de lixo cerca de 100 milhões de toneladas de plásticos de todos os tipos.
Pedaços de redes, garrafas, tampas, bolas , bonecas, patos de borracha, tênis, isqueiros, sacolas plásticas, caiaques, malas e todo exemplar possível de ser feito com plástico. Segundo seus descobridores, a mancha de lixo, ou sopa plástica tem quase duas vezes o tamanho dos Estados Unidos.

vortex.jpg
Um oceano de plástico

O oceanógrafo Curtis Ebbesmeyer, que pesquisa esta mancha há 15 anos compara este vórtex a uma entidade viva, um grande animal se movimentando livremente pelo pacifico. E quando passa perto do continente, você tem praias cobertas de lixo plástico de ponta a ponta.

sea-turtle-deformed.jpg

Tartaruga deformada por aro plástico

A bolha plástica atualmente está em duas grandes áreas ligadas por uma parte estreita. Referem-se a elas como bolha oriental e bolha ocidental. Um marinheiro que navegou pela área no final dos anos 90 disse que ficou atordoado com a visão do oceano de lixo plástico a sua frente. 'Como foi possível fazermos isso?' - 'Naveguei por mais de uma semana sobre todo esse lixo'.
Pesquisadores alertam para o fato de que toda peça plástica que foi manufaturada desde que descobrimos este material, e que não foram recicladas, ainda estão em algum lugar. E ainda há o problema das partículas decompostas deste plástico. Segundo dados de Curtis Ebbesmeyer, em algumas áreas do oceano pacifico pode se encontrar uma concentração de polímeros de até seis vezes mais do que o fitoplâncton, base da cadeia alimentar marinha.

birdtummy.jpg
Todas as peças plásticas à direita foram tiradas do estômago desta ave

Segundo PNUMA, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o plástico é responsável pela morte de mais de um milhão de aves marinhas todos os anos. Sem contar o restante de espécies que vivem nesta área, tais como tartarugas marinhas, tubarões, e centenas de espécies de peixes.

dead_bird.jpg
Ave morta com o estômago cheio de pedaços de plástico

E para piorar essa sopa plástica pode funcionar como uma esponja, que concentraria todo tipo de poluentes persistentes, ou seja, qualquer animal que se alimentar nestas regiões estará ingerindo altos índices de venenos, que podem ser introduzidos, por meio da pesca, na cadeia alimentar humana, fechando-se o ciclo. Na mais pura verdade de que o que fazemos à Terra retorna a nós, seres humanos.

Fontes: The Independent, Greenpeace e Mindfully

Ver essas coisas sempre servem para que nós repensemos nossos valores e pricipalmente nosso papel frente ao meio ambiente, ou o ambiente em que vivemos.


Antes de Reciclar, reduza!

Um Oceano de Lixo - Video

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Primeiro dia de aula

Engraçado, com parcos recursos e uma desorganização digamos "sistêmica", ainda assim há algo que podemos chamar de "escola", sabe por que? Porque a escola assume seu significado pelas pessoas que lá frequentam, pela felicidade gratuíta das crianças retratadas por atos singelos como um cumprimento, um sorriso e o mais surpreendente, um respeito pela figura deste que pode ser verificado com a quantidade de crianças de 6º ano que ao serem perguntadas - o que pretende ser no futuro - responderam em sua maioria "ser professor". Isso com um cenário na qual o próprio estado desvaloriza o seu profissional ao alardear a incapacidade do professorado na mídia ao avaliarem uma vida escolar inteira por meio de prova única. Ainda bem que estes estudantes de mais uma periferia esquecida das muitas de nosso país passam com louvor pela principal prova da vida, a do desafio da sobrevivência. Talvez por isso tenham no futuro o dom natural de educar a quem realmente precisa.

Mister Ale

Conceitos de Paisagem em Geografia

Paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é o conjunto de formas que, em um dado momento, exprime as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre o homem e a natureza. O espaço são essas formas mais a ida que as anima. A palavra paisagem é frequentemente utilizada em vez da expressão configuração territorial. Esta é o conjunto de elementos naturais e artificiais que fisicamente caracterizam uma área. A rigor, a paisagem é apenas a porção da configuração territorial que é possível abarcar com a visão. Assim, quando se fala em paisagem, há também a referência à configuração territorial e, em muito idiomas, o uso das duas expressões é indiferente. A paisagem se dá como um conjunto de objetos reais-concretos. Nesse sentido, a paisagem é transtemporal, juntando objetos passados e presentes, uma construção transversal. O espaço é sempre um presente, uma construção horizontal, uma situação única. Cada paisagem se caracteriza por uma dada distribuíção de formas-objetos, providas de um conteúdo técnico específico. Por isso, esses objetos não mudam de lugar, mas mudam de função, isto é, de significação, de valor sistêmico. A paisagem é, pois, um sistema material e, nessa condição, relativamente imutável: o espaço é um sistema de valores, que se transforma permanentemente.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo, Edusp, 1996. p.83.
A paisagem da periferia se constitui num imenso mosaico, ora se apresenta como rural com sitios, chácaras, bucolismo; ora se apresenta como urbana, comércio, carros, barulho...
Porém ela está intrinsicamente ligada à cidade e a sua população pertence a ela tanto quanto um outro que se localiza num bairro central. A diferença básica entre centro e periferia é a relação que as pessoas estabelecem com o lugar, pois enquanto no centro a disponibilidade de infra-estrutura e de serviços básicos permitem que a pessoa residente numa unidade habitacional usufrua destes numa relação estritamente econômica, como no jargão "tô pagando por isso, então faça!", na periferia as relações comunitárias servem como um dos poucos, senão o único meio de se obter algo num lugar quase sempre carente de serviços básicos e/ou marginalizados pela ação do estado. Afinal, enquanto no centro, a população trabalhadora de operários, serviçais e prestadores de serviço são uma parte fundamental para o funcionamento do lugar, na periferia o habitante tem apenas o status de 'pobre', idependentemente da sua ocupação, apenas por estar territorialmente ligado a um espaço na qual os seus 'patrões' não desejam conhecer ao mesmo tempo que a sensação de insegurança patrimonial aflige a quem não faz parte dela. A cidade e a sua paisagem somente possuem significado pelas pessoas que a habitam, idependentemente de sua origem, cor, etnia, religião, classe social, etc. E quanto mais diversificado esse mosaico, maior sua condição cosmopolita, que é sinônimo da riqueza cultural deste espaço repleto de significados.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O que entendemos por educação?

Estamos a começar mais um ano letivo, eu digo a começar mesmo, porque como funcionário do governo do estado de São paulo estou impedido de exercer a profissão que escolhi devido a mais um dos conflitos envolvendo a classe trabalhadora com o estado, aliás não será o último vide o histórico recente das relações que perfazem o último sistema de ensino básico a iniciar o ano letivo no país.
Estamos numa era de transformações em nossa sociedade, econômicas, políticas e culturais, com um avanço tecnológico que nos permite interagir com qualquer outro cidadão que tenha acesso as benesses materiais que ela mesma produziu e até mesmo interagir com outros mundos, passível apenas na literatura e na imaginação do ser humano até pouco tempo atrás em nossa história.
Estamos como nunca a aplicar o verbo universalizar, porém para se tornar único a única solução práticada até agora foi (impor) um universo de fantasia acessível a quem possa comprar, corroborado pela idéia do que a pessoa vale pelo que tens ou o que consegue acumular, idependente do meio que a levou para tal.
Estamos de fato numa realidade em que posições corporativas são mais corretas que as individuais, em que conhecimento ainda é assunto tratado como segurança nacional, em que o coletivo só se legitima ao contemplar todas as posições individuais, em que valores difundidos pelos ditos 'sábios' como tolerância, diálogo, ética e transparência devem ser substituídos por competição e resultados.
Estamos ainda a compreender o significado da palavra 'Educação' inventada como uma forma de se passar com eficiência os conhecimentos necessários a sobreivência nesse mundo que ainda ensaia o que é uma sociedade universal, quem sabe ao apanharmos alguns exemplos de seres humanos excepcionais, seja possível exercer uma igualdade na diferença existente entre cada um de nós.

"Não há diferença fundamental entre o homem e os animais superiores quanto as suas faculdades mentais" Charles Robert Darwin (12/02/1809 - 19/04/1882) - In: A Descendência do homem (1871), p. 34.

para Paulinha.
Mister Ale