sábado, 29 de agosto de 2009

Uma ação pelo nosso planeta no presente: Carta de 12 de abril de 2049

Copenhague, 12 de abril de 2049.

Era uma fresca e agradável manhã de primavera, a temperatura não psssou de 42°C à sombra. Vovó Sara, 71 anos de idade, foi fazer uma caminhada na beira do mar com o seu neto, Estéano, 10 anos. Eles iniciaram uma conversa muito animada:

Estéfano: Vovó, é verdade que o papai me disseste essa manhã, que embaixo deste mar à nossa frente reside uma cidade inteira que se chamava Copenhague?

Sara:
Sim, querido Estéfano: Era uma cidade grande, bonita e charmosa, cheia de palácios, torres, teatros, universidades. Costumavamos viver ali, com nossos amigos e família, antes da Catástrofe.

Estéfano:
O que houve?

Sara:
Não aprendeste sobre isso na escola? Os gases de efeito estufa resultamtes da queima de combustíveis fósseis -carvão e petróleo- produziram um aumento na tempetatura, assim bilhões de toneladas de gelo vindas do pólo Norte e da Groelândia se derreteram. Começou bem devagar, porém há alguns anos atrás enormes blocos de gelo subitamente escorregaram para o mar, e o nível dos oceanos subiu vários metros.

Estéfano:
Sei... Isso aconteceu apenas aqui, na Dinamarca?

Sara:
Ah não, meu filho. Isso aconteceu em todo o mundo. Várias outras belas cidades como Veneza, Amsterdã, Londres, Nova Iorque, Rio de Janeiro, Dacca, Hong-Kong estão agora sob o mar.

Estéfano:
Será que nunca verei Copenhague e essas outras belas cidades?

Sara:
Creio que não, Estéfano. Alguens climatologistas dizem que em alguns milhares de anos o clima mudará novamente, o mar deve retroceder, revelando as ruínas de nossas esplêndidas cidades. Mas não estaremos lá pra ver isso.

Estéfano:
Mas vovó, ninguém previu essa Catástrofe?

Sara:
Muita gente previu sim! Alguns cientístas, como
James Hansen, climatologista da NASA, há 40 anos atrás havia previsto que isso aconteceria com bastante precisão se continuassemos nesse rítimo de produção econômica. Outros cientístas também previram o que aconteceu no sul da Europa: ao invés de campos verdejantes no sul da Itália, França e Espanha, temos agora o que chamamos de Deserto do Saara do Sul da Europa.

Estéfano:
Diga-me vovó, a Catástrofe era inevitável?

Sara:
Na verdade não, filho. Algumas décadas atrás era ainda possível evitá-la se mudanças radicais tivessem sido feitas.

Estéfano:
Por que os governantes durante esses anos todos não tomaram alguma iniciativa?

Sara:
A maioria deles serviam os interesses de uma elite dominante, que se recusaram a considerar qualquer mudança que ameaçasse o sistema econômico vigente -a economia capitalista de mercado- os seus privilégios e seu estilo de vida. Eram uma espécie de "oligarquia fóssil" na qual perseguiu-se obstinamente o petróleo e o carvão, e que considerava qualquer proposta de substituíção rápida delas por energias renováveis (como a energia solar) como "não-realista", ou como uma ameaça a "competitividade" de suas empresas. O mesmo aplica-se à indústria automobilística, ao transporte de mercadorias por caminhões, etc.

Estéfano:
Como poderiam ser tão cegos?

Sara:
Olha, em 2009, enquanto ainda existia a cidade de Copenhague, governates do mundo todo se reuniram aqui pela
Conferência Mundial para as Mudanças Climáticas. Fizeam belos discursos, mas chegaram a nenhuma conclusão significativa sobre o que se fazer nos próximos anos; alguns países ricos industrializados anunciaram que eles reduziriam pela metade às emissões de gases de efeito estufa... até 2050. E não acharam nada melhor do que isso, entretanto, se estabeleceu um "sistema legal de comércio de emissões" aonde os grandes poluídores obtiveram o direito de continuar a poluir.

Estéfano:
E ninguém protestou?

Sara:
Claro que houve protesto! Massas de pessoas zangadas vieram de toda a Europa, e também de países distantes para Copenhague manifestar o seu protesto, e pediam por medidas radicais e imediatas, como a redução das emissões em 40% para 2020 (deveriamos ter pedido 80%). Dentre as pessoas que apoiavam essas medidas, haviam algumas -Eu era uma delas- que se intitulavam ecosocialistas.

Estéfano:
O que você propôs?

Sara:
Discutimos que uma mudança social radical era necessária, passando os meios de produção das mãos da oligarquia capitalista e
dá-los ao povo; chamamos isso de novo modelo de civilização, um novo padrão de produção -usando a energia solar- e de consumo, suprimindo a propaganda e todo lixo inútil por ela promovida. Ao invés de um ilimitado "crescimento", baseado no lucro ilimitado e na acumulação de capital, propusemos um planejamento de produção democrático, de acordo com as reais necessidades sociais, bem como a proteção do meio ambiente.

Estéfano:
Isto me parec
e bem razoável! Mas qual foi a resposta das autoridades?

Sara:
Bem, nós e todos os jovens protestantes foram recebidos pela polícia com cacetetes e gás lacrimogeneo.

Estéfano:
Você foi atingida vovó?

Sara:
Ah sim! Fui atingida por um cacetete de borracha e minha orelha esquerda quase foi quase decepada. Olha, eu ainda tenho uma marca disso aqui, debaixo dos meus cabelos...


Créditos: Tradução livre do inglês com grifos de minha autoria encontrado em
http://www.ecosocialistnetwork.org/, todos os direitos reservados.

ps: Os links no texto redirecionam as informações para sites com aprofundamento das mesmas.

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Comentário:

Depois de ter visto essa semana algumas cenas de barbárie numa ação de despejo promovida pelo estado num processo de reintegração de posse de propriedade privada (como nos videos relacionados abaixo), chego a conclusão que se quisermos ser uma "sociedade" de fato, devemos primeiramente nos sentir envergonhados em assistir em pleno século XXI, seres humanos que dividem o mesmo espaço urbano que nós serem brutalmente humilhados com a perda do que eles podiam chamar de "lar" com as suas crianças dormindo ao relento na sujeira debaixo de chuva, e ainda sujeitos a aproveitadores de todo o tipo, inclusive como protagonistas de espetáculo para a tv.

É absolutamente inaceitável tamanha indiferença em relação a quem vive sem um lar. Afinal, é condição de dignidade de qualquer um que é capaz de ler esse texto saber que existe o conforto do seu lar, porém como o planeta Terra é o único lar para todos nós, ainda temos pessoas que sentem-se abandonadas à sua propria sorte, por simplesmente não ter os recursos materiais necessários para ter um lar digno em nossa sociedade tecnológica e seus tantos iPods, smartphones, palácios, carrões, iates, etc.

A natureza, como sempre, nos traz as respostas às agressões que promovemos a ela e, consequentemente, a nós mesmos pelos descaminhos que nossos governantes tomam, ao promover um desenvolvimento econômico e social baseado apenas no incentivo ao consumo em massa, no esgotamento dos recursos naturais e na produção de lixo sem precedentes na história da humanidade.

Para quem estiver aqui daqui há 50 anos, desejo apenas boa sorte!


Mister Ale





Atualização de 8/09/2009:

Segue abaixo reportagem publicada na última semana pelo portal do Estadão na internet. A íntegra desta reportagem pode ser lida através do seguinte link: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090904/not_imp429401,0.php

Área que foi reintegrada deve R$ 317 mil de IPTU

Terreno no Capão Redondo pertence à Viação Campo Limpo e foi desocupado pela PM; empresa também deve R$ 30 mi ao INSS

Diego Zanchetta

A Viação Campo Limpo deve à Prefeitura de São Paulo R$ 317 mil de IPTU referente ao terreno de 33 mil m² onde houve, na semana passada, uma reintegração de posse, no Capão Redondo, zona sul de São Paulo. A empresa ganhou na Justiça o direito de reaver a área, de onde foram retiradas pela Polícia Militar cerca de 2 mil pessoas de 800 barracos. Mas o espaço pode ser penhorado tanto pelo governo municipal como pela Previdência - a viação também deve R$ 30 milhões ao INSS.No ranking dos 2.340 grandes devedores do IPTU, a Viação Campo Limpo ocupa a última posição. O pagamento do tributo sobre o terreno de valor venal estimado em R$ 1,2 milhão não é pago desde 1995. Há quatro meses a Procuradoria-Geral do Município começou a entrar com ações judiciais solicitando a penhora dos bens de devedores do IPTU. A Secretaria Municipal de Finanças informou ontem que os débitos da empresa de ônibus referentes a 2001 e 2007 também estão em "fase de penhora".A invasão ocorrida há cerca de nove meses teve como foco diretriz da Frente de Luta por Moradia que defende justamente a ocupação de terrenos ociosos de devedores da Previdência e de tributos municipais. O espaço segue desocupado. A Defensoria Pública do Estado defende que o governo municipal desaproprie a área e desconte a dívida de parte do valor do terreno. "O débito é um bom motivo para a Prefeitura tentar desapropriar o imóvel e construir moradias no local", disse Carlos Loureiro, coordenador do Núcleo de Habitação da Defensoria.Douglas Góes, advogado da empresa, afirmou que não faria comentários sobre a dívida. "Vocês da imprensa querem distorcer o fato. Existe decisão judicial que impediu a invasão de um terreno particular, esse é o centro principal da questão", disse. A empresa negocia com o governo o parcelamento de parte do débito por meio do Programa de Parcelamento Integrado (PPI). A dívida da Previdência, referente ao não recolhimento do FGTS de ex-funcionários, é contestada na Justiça.Procurado para comentar a dívida da viação, o SPUrbanuss (sindicato patronal das viações) informou que a empresa não é credenciada. Em março de 2006, a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) descredenciou a empresa, que operava oito linhas intermunicipais, já que em 2005 havia sido multada mais de 900 vezes por falhas nos serviço. O vereador Antonio Donato (PT) vai convocar representantes da viação para depor na CPI do IPTU da Câmara.



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