sexta-feira, 13 de março de 2009

Transplante de orgãos



Quando esse espaço foi criado, uma das primeiras idéias que tive foi a de deixar um depoimento sobre a minha experiência pessoal a respeito dos transplantes de órgãos, e como no último dia 13 foi a data de aniversário de um ano do último transplante de córnea que sofri, então deixo aqui alguns esclarecimentos sobre o motivo que levou-me à mesa de cirurgia e o que isso significou para a minha vida por meio dessas perguntas e respostas colocadas abaixo com o objetivo de servir-lhes como um serviço de utilidade pública:


1) O que são transplantes de órgãos?

- É um processo cirurgico na qual uma pessoa receptora recebe de uma outra pessoa doadora um ou mais órgãos com a finalidade de recuperação de alguma função vital severamente comprometida do seu organismo.


2) Como é um transplante?

- Transplante de órgão é um procedimento cirurgico de alta complexidade, na qual basicamente se envolvem três fatores: 1) A constatação que não há mais alternativas de tratamento do paciente por meios convencionais; 2) A viabilidade da cirurgia de transplante obtida por exames clínicos que constatem a saúde do paciente para o pré-operatório; 3) A compatibilidade do órgão a ser transplantado e a chances de rejeição do mesmo.


3) Quando se deve transplantar um orgão?

- Quando a pessoa possui uma doença que comprometa severamente o funcionamento de alguma função vital causada pelo mal funcionamento de um órgão, é recomendável o transplante como uma última alternativa para salvar a vida desta pessoa ou pelo menos, devolver a ela a função vital perdida pela falência ou mal funcionamento do órgão a ser transplantado.


4) Quem deve se submeter a um transplante?

- O paciente que estiver com uma ou mais funções vitais seriamente comprometidas e que cause uma severa limitação na sua qualidade de vida ou mesmo em caso de iminência de morte pode ser indicado a sofrer esse tipo de procedomento cirúrgico.


5) Quais são os tipos de cirurgias de transplantes realizadas no Brasil?

- Há 2 tipos de cirurgias de transplantes: O transplante de órgãos em sí (ossos, córnea, pulmões, rins, coração, fígado, pâncreas e de tubo digestivo) e o transplante de tecidos ou partes de órgãos (medula óssea, pele, céluas-tronco, etc.). O mais comum é o transplante de córnea, que segundo dados do ministério da saúde foram realizados em 2008, 6107 cirurgias desse tipo em nosso país.


6) Quem pode doar órgãos?

- Pela lei um doador tem de expressar sua vontade ou não de doar seus órgãos quando atinge a maioridade legal, ou seja, a princípio toda pessoa maior de 18 anos se torna potêncial doadora de órgãos, exceto se expressa o contrário, que pode ser registrado ao tirar uma segunda via de RG, por exemplo. Órgãos como rim e a medula óssea podem ser doados em vida, o que chamamos de transplante intervivos, os demais órgãos somente podem ser doados com a morte do doador, o que necessita nesse caso de autorização da família.


7) O que me fez ser um receptor de órgãos?

- Tenho uma doença chamada Ceratocone, que foi diagnosticada quando tinha 22 anos (hoje tenho 27); é uma mal formação de origem congênita das córneas que causa astigmatismo irregular. Em resumo, num estágio avançado deixa a visão como se fosse um vidro trincado e com manchas, e faz com que a imagem vista fique distorcida, o que na prática representa baixa visão. Antes de fazer os transplantes (o primeiro foi em novembro de 2004) possuia menos de 5% da visão normal de uma pessoa, e cheguei a ter somados os olhos, menos de 30% de visão no melhor olho, o que me classificaria como "deficiente físico" perante a legislação. Porém graças as intervenções cirurgicas hoje tenho uma visão normal em ambos os olhos e tão somente utilizo lentes de contato simples para corrigir o astigmatismo residual do pós-cirurgico.


8) Como foi ser um receptor?

- É certamente uma das experiências pessoais mais marcantes na vida de um ser humano, pois penso sempre que para que tal ato tivesse êxito fora necessário que duas famílias num momento de perda de um ente querido tomassem difíceis decisões para autorizar a doação, porém essas foram as decisões que também mudaram a minha vida por tabela. Além do mais tenho orgãos que pertenceram a duas pessoas diferentes e não sofri até hoje o complexo do Frankestein, que sentia-se sem identidade e matava no final o seu criador. Eu apenas vivo e passo uma mensagem de vida para quem me cerca, e depois desse tipo de experiência, a vida sempre lhe tem mais valor, pois agora eu posso enxergá-la em seus detalhes.


9) Quais são os cuidados do pós operatório?

- Muitos, mesmo no meu caso de não utilizar um órgão vascularizado, o risco de rejeição do órgão é permanente, bem como o de obter uma infecção como a que causou esse atual afastamento do trabalho: uma úlcera causada por mais uma infecção oportunista, o que me faz pingar colírio a cada hora, mesmo a noite, há 10 dias. Enfim, muitas vezes precisamos de ajuda, e mesmo que a sensação de independência seja uma conquista, tão importante é ter com quem compartilha-la. Seja com a família, amigos, médicos, religião ou até mesmo num divã de psicólogo o importante é que cada passo daqui em diante seja mais um dia de vida para quem recebe um novo órgão.


10) Qual é a mensagem que deixo a você?

- Se leu até aqui e compreendeste a mensagem, torne-se daqui em diante um agente multiplicador, principalmente ao informar as pessoas sobre a importância da doação de órgãos. Caso ainda assim tenha dúvidas a respeito, assista aos vídeos abaixo, que representam diversas e verdadeiras lições de vida.



Videos 1 e 2: Profissão Reporter - Tv Globo - Data: 21/10/2008








Um comentário:

Anônimo disse...

Simplesmente mágico. Você consegue, em palavras, mostrar-nos toda a realidade da vida. Parabéns e que vc. consiga se recuperar muito em breve.